Um menino com os olhos fechados e oprimido - capa do livro |
É um livro autobiográfico, sobre uma pessoa convivendo com a síndrome de Asperger. Essa doença é uma condição do autismo, na época que o autor vivencia, ela ainda não era conhecida, então ele era rotulado estranho pela sua condição ainda sem nome. O que mais me surpreendeu é que ele somente foi diagnosticado aos 54 anos, mas para ele só deu-se nome ao que ele já sabia.
O nosso personagem é Jonh que nos conta sua vida na infância, o relacionamento com seus pais e seu irmão mais novo. Nos conta as experiencias que fazia com seu irmão na inocência, sem saber que poderia machucá-lo. Seus pais começaram a ter comportamentos diferentes, muita bebida e agressão da parte do pai que não entendia o filho, achava que era um marginal por ter comportamentos diferentes: "Todo mundo achava que entendia meu comportamento. Era simples: eu não era boa coisa. Ninguém confia num cara que não olha nos olhos. (...) Eu não conseguia entender porque eles ficavam tão agitados, nem ao menos porque era tão importante olhar nos olhos dos outros".
Sua mãe teve problemas mentais e fora internada diversas vezes e nosso protagonista após se mudar várias vezes com seu pai, viu a oportunidade de sair de casa com 17 anos.
Ele nomeava as coisas de forma que ficava mais fácil para ele assimilar, dava nome ao irmão (verme), à sua namorada (ursinho), ao seu pai e até para sua mãe, mas estes dois precisou de um psicologo a prometer que não apanharia se contasse os apelidos: Escrava e estúpido! Na cabeça dele fazia sentido, e quando lemos faz mais sentido ainda.
Ele não sabia o que dizer em uma conversa, nos conta essa dificuldade e como aprendeu a "responder o que as pessoas queriam ouvir", não sabia corrigir os outros, porque pensava que somente tinha o seu jeito de fazer as coisas certo. Do nada ficava se balançando, tinha umas expressões muitas vezes inapropriadas para o comum. Mas, por outro lado era super inteligente, gostava de ler e estudar, se interessava por tanques, aviões, pedras, estrelas, dinossauros, mas um presente fez que se interessasse por eletrônica de uma forma que fez seu futuro.
Fez um curso de eletrônica, trabalhou em um laboratório da universidade e assim uma coisa que começou por diversão que era montar rádios, aparelhos de dar choques se juntou com uma outra paixão que descobriu, que era a música e assim começou a trabalhar com amplificadores de sons, modificar instrumentos, efeitos sonoros e etc. Acabou em uma das melhores bandas daquela época Kiss e Pink Floyd, por mais que foi bem sucedido não terminou de se formar e nem teve uma faculdade pela dificuldade na socialização que teve e compreensão dos demais.
As partes mais legais do livro são aquelas que inocentemente coloca seu irmão numa fria ou com muita maldade faz trotes nas pessoas, o maior foi quando colocou um manequim com roupas parecendo uma pessoa sendo enforcada e eletrocutada num poste. Acionou as autoridades do local que depois de horas trabalhando descobriram que era um trote.
Além dos relatos dessas experiencias ele também nos conta sobre sua vida amorosa, sobre filhos e seus sentimentos sobre tudo que vivenciou e a preocupação em seu filho ser como ele e sofrer da mesma forma que sofreu, é interessante o alivio que vimos quando ele lê sobre seu caso e como percebe que se na época da sua criancice os seus pais soubessem o porque daquele comportamento, a vida poderia ter sido diferente e as chances perdidas poderiam ter sido aproveitadas. O relato abaixo demostra o pensamento e o sofrimento dele em relação a isso:
"Estas dificuldades destacam um problema que os portadores de Asperger enfrentam todos os dias. Uma pessoa com uma deficiência obvia - por exemplo, alguém numa cadeira de rodas - é tratada de modo compreensivo porque sua deficiência é obvia. ninguém vira para um rapaz na cadeira de rodas e diz, rápido! Vamos correr atpe o outro lado da rua!, E quando ele não pode fazer isso ninguém diz, Qual é o seu problema? Eles até se oferecem para ajudá-lo. Comigo não existe nenhum sinal externo que indique que tenho uma deficiência conversacional. Então, quando alguém me ouve dizer alguma coisa sem sentido para eles, comentam: mas que sujeito arrogante! Não vejo a hora em que minha deficiência seja tão respeitada quanto um cara na cadeira de rodas."
Enfim, ler este livro foi de um aprendizado enorme, me diverti bastante lendo as traquinagens que ele fazia, e consegui trazer para mim a compreensão que necessitamos ter com quem sofre com essa síndrome. Hoje a sociedade está mais conscientizada sobre essa síndrome, mas ainda na educação é um desafio que precisamos enfrentar.
Indico essa leitura para se divertir, para aprender e amar.
Sintomas da Síndrome |